domingo, 29 de julho de 2012

Chefes Tribais Fantoches




Esta foto, hoje(20) publicada no NOTÍCIAS de Maputo, trouxe-me à memória a forma como foram tratados, não só durante a chamada Luta de Libertação, como durante o governo de partido único, as autoridades gentílicas em Moçambique.
Lembrei-me então de um trabalho publicado pelo Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, em 2007, e acima identificado.
Dele transcrevo:
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"Com ajuda de todos estes elementos e contra­riamente ao discurso oficial, é possível verifi­car que se a "frente" zambeziana fracassou não foi "por culpa das autoridades tradicionais". Isso não passava de uma estratégia deliberada da Frelimo para marginalizar esta instituição vista como incompatível com o Estado moder­no, porque como dizia o primeiro presidente deste movimento, Eduardo Mondlane, o poder tradicional seria uma fonte de regionalismo e de tribalismo num Estado independente.
Ademais, as autoridades tradicionais eram vistas como não constituindo um poder le­gítimo porque tinham sido pervertidas pelo colonialismo. Isto equivalia a dizer que para a Frelimo as "verdadeiras autoridades tradicio­nais" tinham deixado de existir com a derrota do imperador Nguni Ngugunhane (changane à semelhança de Eduardo Mondlane e ou­tros principais dirigentes deste movimento) em 1895 e os que restavam não passavam de simples "fantoches". Mas Ngugunhane, justa­mente, não era um chefe tradicional, mas um imperador e guerreiro estrangeiro oriundo do Mfecane zulu. Entretanto, a Frelimo tinha-o, transformado num arquétipo da resistência primária anticolonial...
Esta política inscrevia-se também na lógica frelimista de se autoproclamar como o único e legitimo representante do povo moçambicano, eliminando todo o concorrente socialmente diferente e susceptível de pôr em causa o seu poder. A divisa era um só povo, uma só nação, uma só cultura, um só partido fim de preservar a unidade entre os moçambicanos. Esta visão que confundia unidade com unicidade conduziu inevitavelmente à negação da diversidade das identidades e de interesses no seio da sociedade moçambicana. Em jeito de conclusão, é preciso sublinhar que a marginalização do poder tradicional con­siderada uma "estrutura arcaica e feudal" ou "colaboradora do inimigo" pode ser compara­da ao combate que a Frelimo operou contra a religião (sobretudo a Igreja católica), contra os assimilados que não tinham aderido à sua luta, contra os "burgueses", os antigos mem­bros das diferentes instituições coloniais tais como Acção Nacional Popular (o antigo par­tido único português), Polícia da Segurança pública (PSP), em resumo, contra os chama­dos "inimigos internos". Qualquer que tenha sido a teorização feita pela Frelimo, tratava-se de meios sociais capazes de se oporem ou de concorrem com este partido e sobretudo, de meios sociais estranhos ao ethos e ao habitus (no sentido bourdieusiano do termo) da prin­cipal elite dirigente da Frelimo composta por jovens assimilados, oriundos de meios urba­nos ou mesmo sendo originários do meio ru­ral, tinham sido socializados nas cidades.
Segundo Salvador Forquilha (a seguir a um estudo de Allen Isaacman sobre os chefes tra­dicionais), é provável também, que a elite dirigente da Frelimo compostas maioritaria­mente pessoas oriundas do Sul de Moçambi­que, como por exemplo Samora Machel, tenha reagido violentamente em relação as auto­ridades tradicionais, porque diferentemente ás do centro e norte do país, as do sul tinham relativamente prosperado graças às rendas provenientes do sistema do cultivo forçado do algodão e sobretudo das que provinham dos mineiros moçambicanos na África do Sul, que no seu regresso a casa, tinham a “obrigação moral” de dar-lhes.
As recentes mudanças da Frelimo em relação às autoridades tradicionais, não significam que este partido tenha uma nova percepção desta instituição. Simplesmente foi forçado a adaptar-se ao novo contexto político caracterizado pelo multipartidarismo, no qual o poder é conquistado via voto e onde o papel do poder tradicional é determinante para conquistá-lo.
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Podem ler o trabalho completo em: Download Os chefes tribais sao fantoches
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1 comentário:

Anónimo disse...

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