terça-feira, 30 de abril de 2013

SOBRE REGIÃO INTRANQUILA

 

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Sergio_vieira_savanaCom a liquidação de Savimbi em 2002, faz pois onze anos, terminaram as guerras na região sul do nosso continente. Angola sofreu a guerra de colonial e as agressões entre 1961 e 2002, quarenta e um anos de sofrimento. Nós padecemos das agressões entre 1964 e 1992, vinte e oito anos. Removido o colonialismo e o apartheid necessariamente que o banditismo em Angola e Moçambique caía rapidamente. Em Angola o comércio dos diamantes de sangue prolongou os sonhos megalomaníacos de Savimbi.

 
Estaremos porventura tranquilos? Não corremos o risco de que novos conflitos nos venham assombrar, importados das tempestades em países vizinhos ou, atiçados internamente por ambições mesquinhas apoiadas pelos interesses néo-colonialistas? Podemos dormir tranquilos, sem sofrer o medo de mortandades e destruições, perdermos entes queridos e os bens que, embora parcos, tanto nos custaram a criar? O nosso psicopata local sempre que necessita de dinheiro faz ameaças e comete crimes, recentemente aconteceu isso.
 
Na região da SADC está longe o fim do conflito no Congo (K), muito embora a assinatura recente em Addis Abeba do acordo de paz, testemunhado por Chefes de Estado, incluindo o nosso, e pelo Secretário-Geral das Nações Unidas. Tudo que acontece no Congo (K) afecta Angola, refugiados, negócios sujos de contrabando de armas, diamantes, etc. A Zâmbia, também vizinha e membro da SADC não sofrerá menos consequências.
 
A própria Zâmbia testemunha represálias políticas e policiais contra antigos Chefes de Estado. Quem se encontra em exercício teme o seu predecessor e receia que o seu sucessor lhe pague com moeda igual. Inclusive o Presidente Keneth Kaunda sofreu nas mãos de sucessores, embora a ele se deva a proclamação da independência nacional. Até lhe pretenderam negar a qualidade de zambiano! Estas rivalidades e mesquinhices políticas nunca auguram futuros promissores. A ausência de Cultura de Estado cria danos ao tecido político, social e económico de qualquer país, por vezes irreparáveis.
 
O Malawi, onde desmoronou a tirania de Hastings Banda quando perdidos os apoios do colonialismo português e do apartheid, não vive um clima mais promissor. A instabilidade, as negociatas de Mutharika deixaram um legado pesado à Senhora Joyce Banda, sucessora constitucional indesejada pelo clã do predecessor. A descoberta de hidrocarbonetos no Lago Niassa (cujo nome e contra as normas internacionais o velho ditador unilateralmente alterou) está a suscitar um conflito com a Tanzânia vizinha. Uma comissão de três antigos Chefes de Estado, Chissano de Moçambique, Mbeki da África do Sul e Mogae do Botsuana, vai mediar o conflito.
 
Ainda antes do início dos trabalhos o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Malawi declarou que caso o seu país não concordar com os resultados da arbitragem, irá recorrer ao Tribunal de Haia. Péssimo prenúncio para os trabalhos, quando um jogador declara de antemão que se perder acusa os árbitros e recorrerá do resultado.A Senhora Joyce Banda pediu aos EUA barcos militares para o Lago!!! Por onde passarão esses barcos para chegarem ao Lago Niassa?
 
Ao nosso lado na Suazilândia e do outro lado do Canal, em Madagáscar, muito está por resolver. Os golpistas em Antananarivo fazem tudo para se manterem no poder. No reino vizinho assolado pela crise económica, com salários atrasados, greves e mais greves, a família real continua a dar um exemplo de opulência e gastos o que facilmente suscita explosões sociais que se repercutem nos vizinhos, nós e África do Sul. Afluem refugiados, existem laços familiares dos dois lados das fronteiras. A África do Sul exporta violência e crime organizado. A criação de uma dúzia de bilionários negros e o fim da segregação racial nos locais públicos não pôs termo à iniquidade herdada e prevalecente.
 
As greves e assassinato de mineiros, as ocupações de terras, as revoltas de trabalhadores agrícolas conjugadas com uma cultura endémica de violência preparam a carga explosiva combinada com o detonador de aberrações populistas, efeito das pilhagens, de mortandades e do desfazer da integração nacional. Algo sobra para nós! Parafraseando os nossos amigos mexicanos que lamentam a proximidade dos Estados Unidos e o longínquo onde se encontra Deus, há que dizer, tão perto da África do Sul e tão longe de Deus!
 
Nada nos ameaça do lado tanzaniano, nada se testemunha lá algo que possa inquietar-nos, salvo os surtos fundamentalistas que matam gente inocente e que, cedo tarde podem chegar à nossa terra, com tão pouco controlo que fazemos desses inúmeros imigrantes e missionários de todas as espécies e feitios que nos vêm ensinar a rezar e odiar o próximo. Descontentamento e instabilidade existem entre nós, suscitados pelo agravamento do fosso entre os muito ricos e muito pobres, entre competentes e incompetentes diplomados, causados pelas ambições que procuram promover o tribalismo, racismo e regionalismo. A vigilância e trabalho sério constituem os únicos antídotos. Um abraço à promoção dos antídotos.
 
Sérgio Vieira
 
P.S. A banca iniciou-se muito antes de haver energia elétrica, telefones, telex e fax. Funcionava. Da independência para cá relacionávamo-nos com todo o sistema financeiro mundial via telex e fax. Recentemente surgiram a internet e os sistemas! Fora do sistema, sem sistema fazem parte dos códigos que nos desesperam, nos impedem de levantar dinheiro, fazer um pagamento, depositar valores.
 
Não pode a banca, a LAM e outros serviços recorrerem às velhas alternativas do telex, do fax, do imprimir diariamente os valores das diferentes contas, as tabelas de voo e de passageiros para que em caso de avaria se dê uma informação à dependência, à filial? Porquê sacrificar o desgraçado do cliente? Quem compensa o cliente pelo incómodo, pelo atraso, sabendo bem que a banca, a LAM, as Finanças, todos penalizam pelos atrasos? Grandes senhores, ouçam os clamores das vítimas e para isso o meu abraço,
 
SV
 
Re. P.S. Parece que há campanhas numa comunicação social que se diz independente (de quem? Dos que lhe pagam?) contra vários candidatos à CNE. Porquê? Devido à independência? Porque omitem quem financia a candidatura de A ou B? Pela honestidade, um abraço.
 
SV
 
JORNAL DOMINGO – 28.04.2013

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