sexta-feira, 26 de julho de 2013

Alguns subsídios para a crítica

  • Ao Cremildo Bahule com a promessa de que este será o último texto longo antes de eu voltar a quebrar a promessa... coloco o segundo texto agora mesmo porque vou à vida. E é bem longo.

    Publiquei este texto no dia 14 de Janeiro de 2009 no meu blogue “Ideias Críticas” com o título “Alguns subsídios para a crítica”. Acho que ajuda a perceber o que eu acho que não vai bem na nossa cultura de debate.

    Começa aqui: Trago para a atenção de todos os leitores aspectos de uma interessante discussão com o
    Bayano Valy (...). A ideia não é de prosseguir com a discussão (...), mas de aproveitar aspectos dessa troca de impressões para ilustrar algumas características do meu entendimento de sentido crítico na esfera pública. Vou utilizar essa troca de impressões com o Bayano para apresentar o problema, mas depois vou prosseguir com uma análise de uma discussão no blogue de Ivone Soares que me pareceu levantar questões pertinentes a este respeito.
    O aspecto levantado pela discussão com o Bayano tem a ver com aquilo que a lógica chama de argumento com base no compromisso. Ao tentar abordar o conflito israelo-palestino o Bayano fez um reparo preliminar oportuno dizendo que como muçulmano ele tem uma inclinação especial pelo lado palestino do assunto. Na continuação da sua reflexão ele teve o cuidado de tornar claro que ele via uma diferença entre esse compromisso religioso por um lado e os méritos da questão por outro, um reparo que me parece não só prudente como também necessário. O problema levantado pelo Bayano, porém, é importante e tem desempenhado um papel muito grande na discussão na nossa esfera pública. Há muitas discussões que são conduzidas desta maneira e que, frequentemente, não dão o passo seguinte que é de separar o compromisso dos méritos da questão. Alguns exemplos que posso dar disso seriam a exigência, digamos, de que um académico esteja do lado dos desfavorecidos; que um militante da Frelimo defenda todas as decisões tomadas pela liderança do partido; que um democrata condene regimes autoritários; que um jovem seja por um programa juvenil qualquer, etc.
    Compromissos de natureza normativa fazem parte da nossa vida. Cada um de nós tem preferências religiosas, éticas, políticas e culturais. Elas estão presentes na nossa vida através de normas e princípios que nos orientam no que fazemos, pensamos e consideramos bom ou mau. Sem estes compromissos é difícil levar uma vida equilibrada. Portanto, a questão não é de negarmos estes compromissos e fazermos ciência (ou analisarmos as coisas criticamente) a partir de um lugar independente destes conflitos. Já Max Weber, o sociólogo alemão, tinha chamado atenção para o facto de que valores estão presentes nos temas que escolhemos e na forma como os abordamos. O único que ele exigia de um cientista social não era a rejeição desses compromissos, mas sim uma atitude transparente em relação a eles. Essa atitude é condição importante de criação de um contexto de discussão saudável e, porque não, politicamente útil.
    Como é que fazemos isto? De que maneira é que podemos tornar os nossos compromissos normativos transparentes? Creio que a resposta é dupla. Temos, por um lado, que interpelar esses compromissos, isto é não simplesmente aceitá-los como inevitáveis e, por outro lado, temos que fazer um esforço de identificar questões que transcendem os limites restrictos do assunto que nos ocupa (...)
    Argumentos com base em compromissos
    A questão colocada pelo Bayano tem uma estrutura argumentativa clara e já formalizada pela lógica. Contém três elementos. O primeiro elemento é, por assim dizer, uma premissa que contém provas da existência de um compromisso. Por exemplo, o Bayano Valy é muçulmano (porque diz sê-lo; frequenta a Mesquita; faz jejum na altura correspondente; vive de acordo com os preceitos dessa religião, etc.). Podíamos representar formalmente esta premissa com a seguinte frase: f (fulano de tal) tem compromisso com posição x de acordo com certas provas ao nosso dispôr (o que ele diz, o que ele faz, etc.). O segundo elemento continua a ser uma premissa, mas desta feita o que ela faz é articular o posicionamento com uma outra coisa. Por exemplo: um muçulmano é solidário com outros muçulmanos. A forma seria: normalmente, a posição x implica também posição y. Ou seja, um muçulmano (posição x) é solidário (posição y). Destas duas premissas resulta a conclusão deste argumento com base no compromisso, nomeadamente que f (fulano de tal) por ser x tem que ser também y. Em moçambiquês: um verdadeiro muçulmano deve defender outros muçulmanos! Esta conclusão é violenta porque impõe limites ao que podemos dizer, fazer ou pensar em virtude das normas que valorizamos. Corremos o sério risco de sermos acusados de incoerência se fizermos ou dissermos coisas que pelo menos superficialmente revelam incongruência. Se o Bayano, apesar de muçulmano, dissesse que a agressão israelita faz sentido, poderíamos com legitimidade levantar sérias interrogações em relação à genuidade do seu compromisso religioso. E este tem sido o problema nas nossas discussões na esfera pública. Ou obrigamos as pessoas a aceitarem os seus compromissos normativos como uma fatalidade ou então a reconhecerem que estão a ser incoerentes.
    Há saídas para este dilema. A primeira saída é simples. Que provas são essas que demonstram que f tem compromisso com posição x? No caso do Bayano a coisa é simples. Ele não nega ser muçulmano, mas se lermos com cuidado as suas intervenções damo-nos conta de que ele tem um entendimento do Islão que é algo crítico. A importância deste reparo não está em subtrair o Bayano da responsabilidade de ser muçulmano, mas sim na constatação de que aquilo que nós chamamos de “muçulmano” é vasto demais para, neste caso pelo menos, comprometer todo o indivíduo. Se eu sou membro da Frelimo, mas entendo essa Frelimo como um partido que defende a justiça social, tenho todo o direito (e se calhar até a obrigação) de resistir à ideia de conformidade com políticas que no meu entender violam essa justiça social. Isto é, posso argumentar com recurso ao meu compromisso com a Frelimo que não aceito certas coisas. Aqui vemos uma coisa interessante. Normalmente, o apelo ao compromisso tem como objectivo impedir que a gente reflicta de forma mais profunda sobre o que nos liga a certas coisas.
    A segunda saída é central. Haverá excepções à regra segundo a qual a posição x implica posição y? Por exemplo, se o Bayano pudesse mostrar que os muçulmanos com os quais ele, como muçulmano, deve ser solidário violam preceitos fundamentais do Islão, então poderia com toda a autoridade dizer que não está a ser incoerente consigo próprio. É verdade que algumas pessoas podem insistir com um princípio geral que diz que um muçulmano, independentemente das circunstâncias e da conduta de outros muçulmanos, deve ser solidário com eles. Aí, contudo, já estamos a entrar numa área que ultrapassa os limites da atitude analítica. Já não se trataria de reflexão crítica, mas sim de obediência. E na verdade uma grande ameaça que páira sobre as nossas sociedades é este compromisso cego com certos princípios normativos gerais.
    Ivone Soares e sua atitude de princípio
    Li (...) a postagem que reproduzo logo a seguir e que, em minha opinião, levanta problemas idênticos, sobretudo a longa e interessante discussão que se seguiu no respectivo blogue. O contexto da sua postagem foi a derrota da Renamo nas eleições autárquicas e as críticas que se seguiram ao rumo levado pelo partido. Ivone Soares, para os que não a conhecem, faz parte da liderança do partido e é responsável, creio, pelas relações públicas, escreveu o seguinte:
    Os partidos, as sociedades, as famílias, e cada indivíduo em si passam por momentos terríveis, este momento é delicado para a RENAMO, meu partido, mas “nem por isso trairei os princípios que acredito”. Há quem diga que há sempre urubos em cima das árvores a espera que a carne apodreça para comer. Fizemos eleições, cometeram-se erros, mas abandonar o Partido no momento de dificuldade só fazem os traidores e urubus humanos. Eu não sou urubu e nas dificuldades me fortaleço para apoair o meu Partido. A minha moralidade impede-me de abandonar seja a quem for nos momentos de dificuldade. E as opiniões contrárias as nossas contam, pois a meu ver, estes contrários ajudam-nos a evoluir. Há necessidade sim de repensar uma série de coisas, mas isso não significa ficar calada sem opinar, internamente, sobre o que acho, nem usar meios menos convencionais para passar recados. “A coerência que tenho impede-me de tecer comentários relâmpagos e de cabeça quente”.
    Achei estas palavras extremamente simpáticas, exceptuando, claro, o ataque pessoal veilado que ela faz aos que defendem uma posição diferente da sua. Coloquei entre parênteses aquilo que julgo ser a essência do que ela está a dizer, nomeadamente que acredita em certos princípios e esses princípios impedem-lhe neste momento de tomar decisões de ânimo leve que, provávelmente, incluem abandonar o partido ou isolar o seu líder. Houve 53 comentários a esta postagem numa discussão quente de algo difícil de reconhecer, mas que se resume ao argumento com base no compromisso. Os comentários levantaram questões relacionadas com problemas graves de liderança, houve até ataques pessoais contra ela (relações familiares estariam na origem do seu posicionamento), problemas de orientação política, problemas ligados às intenções da Frelimo, etc., (...)
    Vamos, então, por partes. A discussão que surgiu na sequência desta postagem foi, na realidade, sobre se um verdadeiro membro da Renamo deve ficar ou não no partido sob a liderança de Afonso Dhlakama. Ela foi feita, contudo, sem tornar explícitos os seus termos. Temos aqui duas premissas. A primeira, como já vimos, é sobre as provas da existência de um compromisso que, neste caso, é sobre se alguém é membro ou não da Renamo. Ivone Soares é mesmo membro da Renamo? Esta é que é a pergunta, uma pergunta violenta porque vai exigir dela uma acção coerente. A segunda premissa, também já vimos, é a articulação entre posição x (ser membro da Renamo) e uma outra coisa. Essa outra coisa, posição y, é sair ou ficar. Uma Ivone Soares que diz ser membro da Renamo e continua dentro do partido está a ser coerente ou não? Manuel Araújo, colega partidário dela e deputado pela Renamo, colocou, nessa discussão, as coisas nesses termos. Não estará ela a trair os anseios do verdadeiro partido?
    Pessoalmente, penso que a posição de Ivone Soares é impecável. Ela diz simplesmente que o seu sentido de lealdade obriga-lhe a permanecer dentro do partido neste momento difícil. A posição de Manuel Araújo também é impecável, mas a sua base normativa é outra. E por essa razão mesmo a discussão entre os dois ainda não começou. Estão em planos morais completamente diferentes. Uma condição para que eles se reencontrem e façam a mesma discussão é satisfeita pelas duas saídas acima mencionadas, nomeadamente interrogar as provas do compromisso e verificar se há excepções à regra da articulação entre posição x e posição y. A primeira saída obriga-nos a colocar a seguinte pergunta banal: o que é ser membro da Renamo? Esta é uma outra maneira de perguntar que posição x está implicada na condição de membro da Renamo. Só clarificando isto é que a articulação com a posição y vai passar a fazer sentido, isto é se em virtude de ser membro da Renamo a atitude perante a actual situação é de sair ou ficar.
    Na circunstância não está, de facto, claro o que significa ser membro da Renamo. O mesmo se pode dizer em menor ou maior grau de todos os outros partidos moçambicanos. Os comentários feitos à postagem em questão definiram, implicitamente, o membro da Renamo como alguém que (a) está contra a Frelimo, (b) é pela democracia, (c) é simplesmente militante, (d) quer conquistar o poder e (e) quer salvar o país. Estas posições não se excluem mutúamente, mas tornam necessária uma discussão – que não precisa de acontecer naquela discussão específica – sobre a concepção política que os partidos têm do nosso país, sobre porque um partido em particular deve existir, o estatuto que conceitos como a democracia, liberdade, direitos e igualdade têm na concepção filosófica de cada partido. Se Ivone Soares acha, por exemplo, que ser membro da Renamo significa lutar pela democracia, então os que com ela discutem podem, socorrendo-se do argumento de que a sua continuidade no partido é sinal de pacto com forças anti-democráticas, a acusar de incoerência. Em sua própria defesa, ela pode passar para a segunda saída que temos para este dilema e perguntar se há excepções à articulação entre posição x (membro da Renamo) e posição y (sair ou ficar). Com efeito, ela pode dizer que justamente por acreditar na democracia é que está na Renamo e isso obriga-lhe a lutar de dentro pela democratização. Com um pouco de imaginação é possível justificar, sem se tornar incoerente, porque é melhor continuar na Renamo e não abandonar o barco neste momento difícil.
    Provocação crítica
    O aspecto crítico que eu gostaria de salientar aqui é de que todo o argumento tem uma componente interna e uma componente externa. A componente interna é aquela que nos obriga a reflectir sobre os termos do próprio debate. O que significa ser Renamo? Quando é que é coerente agir desta ou daquela maneira? A componente externa é a que diz respeito às implicações mais gerais do assunto imediato. No caso desta discussão vejo questões interessantes sobre a lealdade (que Ivone Soares defende com paixão e eu acrescento: com razão), sobre as condições de democratização do país, sobre o papel da crítica interna e, naturalmente, sobre a concepção política do país. Uma atitude crítica exigiria de alguns de nós que fóssemos para além da componente interna do assunto e levantássemos questões mais abragentes. Infelizmente, são poucos os que têm esta preocupação, daí os déficits gritantes que temos na nossa esfera pública.
    E só mais uma palavrinha de provocação. Acho simpática a atitude de Ivone Soares não só pelo facto de se tratar de uma posição de princípio perfeitamente coerente e legítima, mas também porque me parece corresponder a uma leitura correcta da crise que afecta a Renamo. O seu líder está directamente implicado nesta crise, mas os que se apresentam como solução são, julgando os méritos do caso, provavelmente parte do problema também. Em minha opinião, Deviz Simango na Beira é tão responsável por esta crise quanto Dhlakama. A sua indisciplina (do ponto de vista partidário) contribuiu bastante para enfraquecer o partido e isto é independente dos seus méritos como edil. Se Eneas Comiche, em Maputo, tivesse reagido de igual maneira, ele também teria de estar preparado para aceitar parte da responsabilidade por um possível resultado negativo do seu partido em Maputo e no país. O outro aspecto que a posição de Ivone Soares torna claro é que o apelo ao compromisso liberta alguns membros da Renamo de reflectirem criticamente sobre o que os levou aquele partido. Afonso Dhlakama não ficou autoritário agora pelo que me parece legítima a pergunta de saber porque alguns intelectuais hoje desiludidos pensaram que pudessem, mesmo assim, introduzir maior racionalidade no partido. A resposta a essa pergunta é capaz de proporcionar melhores elementos para demover Ivone Soares do seu sentido de lealdade.
    No fundo, não é ela que se deve justificar, mas sim os outros.
    Unlike · ·
    • Cremildo Bahule Obrigado, por me dedicar este texto. Não será isto mais uma “batota textual” da tua parte para eu ficar eternamente como teu discípulo? Fico feliz (vitória aparente da minha parte) por saber que farás um intervalo nos textos longos.
      Contudo, vamos aos
      factos. Dos diversos assuntos abordados chego a quatro terminações: (i) é preciso que se façam as críticas do que está errado e elogiando o que está bom, (ii) não há crítica que se cale e se ofusque quando a moralidade esta podre (aqui estou a responder a seguinte frase “minha moralidade impede-me de abandonar seja a quem for nos momentos de dificuldade”), (iii) a melhor crítica começa pela autocrítica (o que falta há muitos de nós) e (iv) a ideia de “moçambiquês” (não sei se este termo está na lógica do Acordo Ortográfico) não é condição para que eu me cale e defenda aparências erradas porque tenho medo de ser banido do grupo.
      Perante a crítica, seja ela interna ou externa, os nossos valores (religiosos, académicos, desportivos e artísticos) sempre estarão presentes nos temas que abordamos. Agora, o que eu não aceito é uma espécie de masoquismo na defesa de uma ideia, do tipo aceito defender esta opinião, mesmo que esteja errada, porque vou ganhar um dia. Isso não. Eu sou volátil, circunstancial, como diz meu amigo Adriano Simão Uaciquete, daí que não posso permanecer no sol para mostrar sacrifício e valentia enquanto posso desfrutar de uma boa sombra
      Termino com uma ideia que aprendi do meu amigo de estrada Hermenegildo Chambal: se queres chegar a lua olha como estão construídos os teus sapatos. Por relação posso chamar a ideia que Mia Couto já nos sugeriu: precisamos de despir os sapatos sujos que calçamos nas nossas mentes. Se queremos chegar ao bom rumo pelas críticas (sejam elas cinzentas ou amarelas) devemos, antes, saber como estão construídos os nossos fundamentos e que mais valia eles trarão para a ampliação da nossa benevolência humana. Viva o debate e a crítica e a Luta Continua. Paz.
      P.S.: Os textos longos não me assustam. O que me assusta é a distância que reside entre a lógica que está inserida neles e a percepção dos mesmos. Como expuseste num dos teus textos: “as pontes servem para aproximar povos, mas podem servir para transportar material bélico de uma margem para outra”. Acho que os textos, também, funcionam como pontes.
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    • Elisio Macamo caro Cremildo Bahule, é mesmo batota. preciso de gente que me defenda onde não estou, naquelas conversas de bar onde algumas pessoas gritam triunfalmente "desta vez ele apanhou bem no focinho!"... quanto a este texto, a mensagem é a seguinte: o facto de sermos uma determinada coisa não implica que estejamos irremediavelmente comprometidos com certas formas de agir. ser membro da renamo ou da frelimo não significa necessariamente que só posso defender o meu partido ou só posso fazer aquilo que alguém definiu como sendo no interesse do partido. cada um de nós tem a obrigação de analisar o que significa para si ser membro de alguma coisa e agir de acordo com isso. é o que acho que a Ivone Soares fez nessa discussão. se ela teve razão ou não (eu achei a atitude coerente e certa) é outro assunto que só pode ser resolvido através duma discussão do sginificado de ser membro da renamo. infelizmente, essa é a discussão que as pessoas que participaram nessa discussão não quiseram fazer. infelizmente, também, este é o tipo de discussão que nos recusamos constantemente a fazer na nossa esfera pública. preferimos a defesa da nossa zona de conforto ideológico. essa é uma das coisas que critico e que vou continuar a fazer, para citar o título dum livro de Machado da Graça, até ficar rouco. uma coisa é certa, vou ter de conhecer esse Adriano Simão Unaciquete pela insistência com que é sempre convocado aqui. o Hermenegildo Chambal, porém, é capaz de não ser bem bem seu amigo. uma pessoa que mete na nossa cabeça que podemos chegar à lua desde o momento que estejamos bem calçados não gosta de nós. ou não tem meios para nos comprar uma nave espacial...

1 comentário:

Anónimo disse...

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