sexta-feira, 5 de julho de 2013

SOBRE OS LAMBE-BOTAS


SOBRE OS LAMBE-BOTAS

(dedicado ao Sr. Amosse Macamo, do Secretariado para a Mobilização e Propaganda do partido Frelimo)

1. Introdução

... Vassalagem é um sistema social e econômico que foi usado principalmente na Idade Média, onde um indivíduo, denominado vassalo, oferecia ao seu senhor , fidelidade e trabalho em troca de protecção e um lugar no sistema de produção. Hoje, no século XXI, tal “sistema” não encontra melhor enquadramento do que o que temos assistido aqui em Moçambique, sobretudo no meio político: o Lambebotismo. Não vou me circunscrever ao conceito entanto que tal, para a finalidade do presente texto. Importa-me mais a figura do Lambe-Botas.

2. Caracterização

De modo simplista, um Lambe-Botas é uma pessoa extremamente subserviente. São pessoas que passam a vida tecendo rios de elogios, gastando barragens de saliva e trabalhando como capatazes à tempo inteiro para outras pessoas, com a finalidade última e exclusiva de serem recompensadas por tal “serviço”. Há muitos deles por aí, a todos os níveis (na escola, no serviço, na igreja, na zona, no bar, no partido, etc, e até mesmo no Facebook). Regra geral, são invariavelmente incapazes de gerar brilho próprio e reconhecimento das suas capacidades por si mesmos. Por conseguinte, não olham a meios e a modos para se fazerem aparecer, colocando-se sempre como pretenso microfone de outrém para conquistar algo para si mesmo.

O Lambe-botas jamais tem opinião própria. Está sempre a procura de ser as colunas sonoras ou escritas das ideias ou dos pensamentos de alguém que vê como seu superior. Mas nunca o faz de modo genuíno, apenas o reverbera se poder sair favorecido de um ou de outro modo em tal exercício. Faz sempre as suas amizades em função de interesses específicos que o beneficiem directamente, espiritual ou materialmente. Nunca faz amizades com pessoas que não possam ajudá-lo a “vencer na vida”, a “ter confiança incondicional do chefe” ou a “ser bem visto pelos outros”. É sempre amigo de quem o beneficia e, obviamente, inimigo de quem o pode ameaçar, desacreditar ou o revelar. Pode sempre ser encontrado segurando os holofotes de quem pretensamente admira. Procura sempre estar por perto de quem reverencia e, quando acha que não está a ser devidamente visto, não olha a meios para se colocar entre as pontas dos dedos dos pés, com os dentes todos de fora e ensaiando aplausos e hossanas de modo mais amplificado possível. Se pudesse não se importaria nada em arranjar a cadeira do chefe para que se possa sentar, em ir buscar água à geleira ou em afastar as pessoas feias da vista de quem bajula.
Para o Lambe-Botas, o chefe e todo o sistema de relações que ele representa sempre têm razão. Nunca emite um pio sequer em contrário e acha que isso o torna significante, heheheheh... Ele cria uma espécie muito caricata de relação social com o chefe que quase roça a níveis de dependência afectiva. Por conseguinte, aparece sempre a defender tal “membrana relacional”, com a espada desembainhada e os dentes todos afiados prontos para sugar quem se atrever a colocar em questão a sobrevivência do chefe ou a manutenção dos favores que advem da sua adulação. Lacaios incondicionais deste sistema de relações de poder e de influência, estão sempre com as AKM´s carregadas dispostos a tudo para que aqueles que mantêm dignidade e se apresentem como imunes a tal “modus vivendi” sejam desclassificados, descredibilizados e, se possível, desterrados da Pérola do Índico.

3. Contextualização

Decidi escrever o presente texto após ler o post do meu amigo Amosse Macamo, intitulado “A (im)parcialidade” e que pode ser encontrado aqui: https://www.facebook.com/amosse.macamo?fref=ts
No texto, o meu supracitado amigo tenta fazer um inglório, confuso e estúpido exercício de ridicularização da imagem de um outro amigo meu, o cidadão Erik Charas (proprietário e Director do Jornal @Verdade. Inglório porque não o conseguiu, confuso porque não faz uma clara distinção entre o cidadão Erik Charas e o profissional Erik Charas, estúpido porque revela uma colossal ignorância em torno do que é uma e o que é outra coisa. Vamos ao texto:
• O Amosse alega, a dado momento, que a página oficial do Erik Charas “serve para espalhar insultos de forma irresponsável e até algumas vezes idiota. O mesmo ataca injustamente qualquer posição do Governo. Os membros do Executivo de Armando Guebuza são, regra geral, tratados como corruptos. Não há, naquele mural, meio termo e nem o princípio de presunção de inocência que devia nortear a posição pública do Director Geral de um órgão de informação. Mas o pior nem é acusar. O pior mesmo é não provar nada do que se diz. O percursor do Charismo quando barafusta no seu jornal diz que fá-lo como cidadão, mas é impossível desassociar o Director Geral do @Verdade do cidadão. A responsabilidade que se exige ao jornal de reportar com isenção é a mesma que se deve cobrar ao cidadão percursor do Charismo quando fala publicamente na sua página pessoal.”

Ora, primeiro o Amosse deveria trazer aqui as tais expressões insultuosas que idiota ou irresponsavelmente o Erik Charas espalha na sua página no Facebook. Dizer que alguns governantes ou os membros do partido no poder são ladrões, incompetentes ou criminosos é afinal verdade ou mentira? Já tivemos alguns deles julgados e condenados... Temos muitos deles ainda protegidos pelo sistema e pela “mão invisível” do partido, de um modo ou de outro. E o mural é dele, como cidadão, reflectindo a sua opinião pessoal e evidentemente distinta da sua como Director do Jornal @Verdade. Ademais, dentro do jornal, em nenhum momento a opinião pessoal do seu Director é difundida, tal como obviamente acontece na sua página oficial no Facebook.... Pode aqui o senhor Amosse adiantar o pretenso “código de ética e deontologia” que inibe aos CIDADÃOS de se expressarem de modo livre, neste país? Pode também dizer-nos porquê é que é impossível desassociar o CIDADÃO Erik do DIRECTOR Erik? Eu não me expresso no meu serviço do mesmo modo como me expresso como cidadão, por exemplo. O Erik tem de ser diferente porquê? Ele apenas diz à sua maneira e sempre para o povo, o que muitos outros cidadãos nacionais dizem (incluindo alguns dentro da própria Frelimo e a todos os níveis). O cidadão Erik tem de se expressar como o cidadão Salomão Moiana, o cidadão Elísio Macamo ou o cidadão Filipe Couto porquê? Porquê é que não pode ser ele próprio, usando a melhor linguagem que preferir e que seja da percepção e alcance daqueles a quem lhe interessa fazer chegar determinada informação? Porquê é que ele tem de falar para o povo como intelectual? Para que a sua mensagem não seja devidamente recebida e percebida pelas pessoas como acontece com os discursos polidos dos nossos “professores doutores”?!

• Prossegue o Amosse, no seu texto: “Na altura da greve dos médicos o percursor do Charismo escreveu o seguinte no seu mural: “Mais uma Este Governo da frelimo fez merda entao agora que aguente as consequencias.”
De que consequências falava? A morte de pessoas inocentes? Um cidadão que se diz patriota e que ama a terra que lhe viu nascer deseja consequências para o povo? Quer dizer, o ódio pela Frelimo é tanto que para o mesmo ser satisfeito podem morrer pessoas inocentes?
Acrescenta o mesmo o seguinte: “Na sua Arrogancia classica mentiu aos medicos, nao cumpriu com o que prometeu e ainda por cima uma assumiu uma posicao de querer escravizar por eles terem exigido seus direitos.”
Diz mais do Presidente da República: “Mas alguem me explica o que se passa na cabeca deste Presidente? Sera que a ambicao dos dolares retira a habilidade.” Poderá o percursor do Charismo provar que Armando Guebuza quer ou deseja dólares?”

Não é novidade para ninguém que a actual governação da Frelimo tem sido uma das mais desastrosas de que há memória, em Moçambique independente. E tal pode ser evidenciado quase diariamente, a quase todos os níveis (os sistemas de transporte em descalabro, o da educação mediocrizada, o da saúde a definhar, o das obras públicas minguante, o da gestão dos recursos minerais monopolizado e incompetentemente negociado, o da cultura praticamente inexistente, o dos desportos em queda livre, o do interior doentio, o da defesa vergonhoso, etc etc). Sobre o sistema de saúde e a greve dos médicos versus a incompetência colossal do nosso actual Governo, já agora e só para fundamentar a opinião do cidadão Erik, uma das vozes mais autorizadas da nossa economia, o Prof. Doutor Castel-Branco, escreveu uma vez isto: “O governo opta por gastar dois biliões de dólares na compra das acções portuguesas da HCB e na ponte da Catembe e estrada circular, quando diz que não tem dinheiro para providenciar transportes públicos decentes, dignos, seguros e baratos. O Governo optou por entregar à Sasol o gas natural ao preço mais baixo do mundo, e depois diz que não pode pagar bem aos professores e ao pessoal da saúde. Os trabalhadores dos mega projectos pagam mais em impostos do que pagam as multinacionais donas desses projectos. O Estado está a estudar o aumento do seu capital em mega projectos já estabelecidos para os ajudar a atravessar a crise financeira (de multinacionais cujas economias são duas ou mais vezes maiores que o PIB de Moçambique) mas não consegue aumentar os salários dos profissionais servidores públicos que também sofrem os efeitos da crise internacional (por via, por exemplo, dos altos preços da comida e dos combustíveis). Então, está claro que isto são opções, não é falta de dinheiro em absoluto. Então, o que temos de discutir é se estamos de acordo com as opções que o Estado faz sobre mobilização de excedente gerado com os nossos recursos e a nossa força de trabalho, e com o uso que faz do nosso dinheiro.” (Vide o post integral e os comentários na página oficial no Facebook da Associação Médica de Moçambique, aqui: https://www.facebook.com/AssociacaoMedicaDeMocambique?fref=ts, no dia 7 de Junho do corrente ano).


4. Considerações Finais

Obviamente que o senhor Amosse Macamo está apenas a fazer o seu trabalho. Afinal, até é pago para isso, no tal do Secretariado para a Mobilização e Propaganda do partido Frelimo. A sua missão principal é a de fotografar e postar no Facebook o Presidente da República a cortar fitas ou a semear plantas numa escola de um distrito qualquer do país, em troca de pão e cama para si e os seus. As suas atribuições e competências resumem-se em papaguear e ampliar o máximo possível o que se mostra visível da actual governação, sem necessariamente descurar do silenciamento, da sufocamento e da ocultação a todos os meios possíveis e imaginários de tudo quanto vai mal ou se mostra contrário ao que o seu salário lhe impõe como contrapartida. É por aí que eu situo o senhor Amosse e essa estúpida tentativa de assassinar o carácter de um cidadão que, a título pessoal e contra toda a repressão e coersão que o senhor Amosse representa, tenta de forma heróica trazer informação ao povo, na linguagem do povo e com o intuito único de emancipar o mesmo povo da poeira e podridão cíclica a que se vê condenado pelo governo do dia.

Nem seria de admirar tamanho esforço, afinal o Jornal @Verdade é hoje o mais lido do país, tanto na sua versão impressa como na sua plataforma electrónica. É o único jornal do país onde os próprios cidadãos leitores é que são os seus próprios informantes. Claramente que esta abordagem revolucionária na nossa imprensa não poderia ser do agrado de um sistema que luta a todo o custo para censurar, abafar, influenciar e distorcer a opinião pública sobre o precário estado da nação e os rumos sombrios que este país tem estado a trilhar, nos últimos tempos. Informar e difundir isto ao povo só ameaça aos que se aproveitam desse estado catastrófico das coisas para tirarem benefícios pessoais: os detentores do poder e os seus lacaios (os Lambe-Botas).
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— with Antonio A. S. Kawaria and 19 others.
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