segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Bissopo “faz golpe palaciano”!?

REFLEXÃO de: Adelino Buque

Manuel Bissopo, secretário-geral do partido Renamo, depois de um mês de desaparecimento, nas densas matas de Gorongosa, província de Sofala, eis que aparece do nada e conta uma história que somente a si e aos seus convence. Diz Bissopo que o deputado Milaco fora atingido no dia em que as Forças Armadas de Defesa de Moçambique atacaram a base de Satunjira onde há mais de um ano Afonso Dhlakama alternava entre os treinos militares dos seus guerrilheiros e a política, entre a recepção da sociedade civil e conferências de imprensa. Bissopo não trouxe nada de novo.
Ora, as imagens exibidas aquando da tomada de Satunjira, pelos diferentes órgãos de comunicação social, não mostravam uma base flagelada pelos tiroteios das FADM, antes pelo contrário, mostrava um lugar que parecia não viver gente há alguns dias! Muitos dos órgãos de comunicação social chegaram a afirmar que a informação de um iminente ataque das FADM teria sido “vazada” à Renamo. Numa atitude de fuga em frente, na verdade, os homens armados da Renamo receberam ordens para atacar a posição das FADM naquele local e, na resposta e perseguição, chegou-se à base de Satunjira, de onde Dhlakama já se tinha escapulido. Para a sociedade moçambicana, de um modo geral, causou estranheza quatro ou cinco dias depois a notícia da morte do deputado Milaco, alegadamente atingido por estilhaços de “armas pesadas” das FADM. Esta música foi antes “cantada” pelo porta-voz da Renamo, depois de nos cansarem, vem o “bom” do secretário-geral da Renamo repeti-la! Haja paciência.
Julgo ser importante o esclarecimento factual sobre a morte do deputado Milaco, bem assim a agenda do próprio Bissopo. A história que conta sobre a morte do deputado Milaco deixa muitas áreas de penumbra e adensa a ideia de que Bissopo pode estar a preparar um “golpe palaciano” contra o seu líder, Afonso Dhlakama, de quem não se conhece o paradeiro. Não admira que amanhã Bissopo venha contar outra história sobre o líder da Renamo, isto depois de preparar o terreno para a sua própria aceitação.
Pessoalmente não tenho nada contra isso, mas como moçambicano preocupa-me a sorte de Afonso Dhlakama, como um dos subscritores do Acordo Geral de Paz e, na minha opinião, a única pessoa que pode ajudar a parar com a carnificina que se assiste na Estrada Nacional n.º 1, protagonizada pelos homens armados da Renamo, agora sob ordens de Manuel Bissopo. Senhor Bissopo, onde está o líder da Renamo, Afonso Dhlakama?
Obstrução ao diálogo entre o Governo e a Renamo
Algumas correntes de opinião davam a entender que Afonso Dhlakama está refém da “ala dura” do partido Renamo, arriscando mesmo a dizer que Afonso Dhlakama vivia em Satunjira sob “coação”. Esta tese ganha substância quando depois de ser anunciada a equipa de peritos militares da Renamo para o diálogo com o Governo, ela nunca esteve no CICJC sob variados pretextos, com maior enfoque para questões logísticas, sabendo-se que alguns dos peritos indicados por Afonso Dhlakama são deputados e com condições de vida acima do normal. Este facto tem sido pouco explorado por diferentes analistas da nossa praça. Dhlakama pode ter irritado essa ala com a indicação dos referidos peritos militares.
Mais: a atitude da referida “ala” de que Bissopo parece fazer parte só assim se justifica a sua permanência em Satunjira, mesmo com a Assembleia da República em actividades. Deve ser desconfiada e, aqui, a questão não é, como referi acima, de carácter pessoal, é de todos os moçambicanos amantes da paz. Dhlakama é uma peça importante neste jogo de restabelecimento da paz em Moçambique. Ainda que façam o tal “golpe palaciano” pelo menos que poupem a vida de Afonso Dhlakama. O anúncio de que o secretário-geral da Renamo irá visitar as províncias em trabalho político adensa as minhas suspeitas sobre este hipotético golpe.
A Renamo, como é público, pediu uma audiência com o Governo. Hoje a Renamo condiciona o diálogo que pediu à presença dos observadores nacionais e estrangeiros, um assunto que tinha sido ultrapassado, numa autêntica obstrução ao diálogo que a própria Renamo solicitou. O Governo, depois de muito tempo e para flexibilizar o diálogo e dissipar o espectro de guerra, admitiu a presença dos observadores   nacionais, contudo, a Renamo finca-pé e diz que quer ver estrangeiros no processo. Esta relevância dos estrangeiros, coincidência ou não, leva-me ao texto do Prof. Dr. João Mosca, quando defende a dependência do Orçamento do Estado a doações estrangeiras e chega a ver o “perigo” na capacidade de o Governo financiar, sem recurso a doações estrangeiras, a democracia em Moçambique, no seu artigo intitulado “Democracia em crise em Moçambique”. Provavelmente, o Dr. João Mosca tenha feito a análise do mesmo assunto baseado em outros pressupostos. Será!
Um outro reputado economista, no caso o Dr. Rajendra de Sousa, veio a público chamar a atenção para o perigo dasdoações estrangeiras. São escolas diferentes da economia?
Estamos no mesmo país. É muito amor pela Pérola do Índico – Moçambique. Enquanto muitos analistas olham para a situação político-militar nacional de um ângulo, uma pessoa como Dhlakama pode estar a ser sacrificada. Espero estar errado e Afonso Dhlakama apareça forte a liderar a sua Renamo.
CORREIO DA MANHÃ – 09.12.2013

Comments

1
ivonaftal@hotmail.com said...
Primeiro respeito a (des)reflexao. Segundo gostaria de pediir ao sr Buque pra nos dizer donde ele trouxe a informaçao da ocupaçao de satungira? Das imagens da tvm k destacou na abertura do jornal da noite do dia 21/10/2013 "Afonso Dhlakama saiu em debandada apois assalto feito pelas FADM"? Como tera saido em debandada na analise k Buque faz se foi a renamo k atacou (do mesmo jeito k PR dsse).? Essa sera (des)reflexao do sr ou è remix duma reflexao antes conhecida?
Eu acredito k estudou e tem competencia propria pra fazer uma reflexao,nao hipoteques isso a troco dum prato de sopa e assim envergonhares a todos nós e dar mèrito aquilo k levou a expulsao do treinador Miranda. Acredite k esta onde esta por merecer,nao graças a sua militancia,muito menos das desreflexoes k desacreditam a si proprio. Se nao tem auto-estima,faça como o sr Sergio Viera, vais ver k ninguem sentira falta,.....
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eduardo said...
Muito triste o que esse Buque escreve. E verdade que a sua frelimo aceita conviver com outros que nao comungam com seus jdeais? Acredita que e extraterrestre o povo ja conhece muito bem essa frelimo de gente que lutou para ser rica. Ate uma criancinha de 30 anos ja entra nas parangonas de jornais a lhe conferi titulo de milionaria Africana. Onde estamos? Qual o problema de Bissopo substituir Dhlakama o que importam e que nao morram os ideiais pelos quais Dhlakama se bate, ao contrario do que Samora chissano e guebuza morreu Mondlane e tudo com ele foi. No fim da jornal muitos compatriotas mortos sem justa causa ate aos dias de hoje se assiste terrorismo de estado, ou minto?
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betty georges said in reply to Khalil Gibran...
Simples pergunta aos que sabem e ouvem tudo:
-Mas aonde é que está o Afonso???...O lider do maior Partido de Oposiçao transformou-se num extraterrestre...Estará ele vivo??..E este Manuel Bissopo nao estará ele a comer dos dois lados???
Analizaram bem as declaraçoes dele??..Cheiram "mal"
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Khalil Gibran said...
São preparativos para um assalto em massa contra os membros da Renamo que são deputados, membros das assembleias municipais e todas as pessoas que são conotadas com a oposição.
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Kodjaiwamue said...
Adelino, não inventa. Se existe alguém neste mundo que vai festejar efusivamente o desaparecimento de Dhlakama, seja la por que via sem sombra de duvidas que e o Adelino do BUQUE. Vir com esta ironia não ajuda para o bem estar em Moçambique. Infelizmente eu sou seu compatriota.
6
Umbhalane said...
Adelino Buque, dizem que os "homens nunca choram"!
Mentira deles.
Fazes-me chorar maningue, mesmo de verdade.
Ainda nem parei.
Se as letras saírem esborratadas, já sabes - é do choro que me fizeste, das lágrimas que não param.
As tuas "teorias" vamos ver-lhes no fim do jogo.
Agora a tua grande preocupação com Afonso Dhalakama, a tua verdadeira, mesmo genuína de verdade, com o Supremo Comandante me sensibiliza demais, impressiona, comove, quase que fico de desmaiar, perder os sentidos, condoidamente no verdadeiro contexto.
Muito obrigado “Book” da FIRlimo.

Ndife, ndiye RENAMO, ife tensene ndinadzmanga frelimo
Fungulani pyadidi maso muwone – abram bem os olhos para verem (bem).

Na luta do povo ninguém se cansa.

E sempre a dizer sem cansar,
Fungula masso iué (abram os olhos).

A LUTA É CONTÍNUA

1 comentário:

adelino buque disse...

Interessante debate sobre esta Reflexao, ha quem chame de (des)reflexao, isto mostra o quanto vai a nossa liberdade de opiniao e de expressao.