terça-feira, 17 de dezembro de 2013

FIR invade domicílio dos estudantes durante a madrugada sem mandado judicial

Mas afinal, o que e que se passa?

"...Do Instituto Industrial e Comercial da Matola
  (
#canalmoz)

- No local, a FIR tentou "raptar" um estudante alegando ser colaborador dos sequestradores. Este fugiu e continua desaparecido

Maputo (Canalmoz) - Um jovem estudante do Instituto Industrial e Comercial da Matola, de nome Abdul Ali, natural da província de Cabo Delgado, continua desaparecido depois de no passado dia 5 de Dezembro corrente, pelas 2 horas da madrugada, seis agentes da Força de Intervenção Rápida (FIR) terem tentado raptá-lo no Centro Interno daquela instituição de ensino técnico e médio.
Fonte familiar e colegas disseram ao Canalmoz que o episódio deu-se na última quinta-feira, no dia 5 de Dezembro, quando pelas 2 horas da madrugada seis homens armados – três dos quais vestidos de FIR e dois à paisana – invadiram o internato, sem nenhum mandado judicial com o agravante de ser alta noite. Estes agentes obrigaram o guarda do Centro Interno do Instituto Industrial e Comercial da Matola a abrir o portão porque alegadamente tinham um trabalho a fazer no centro.
No recinto do centro os cinco supostos agentes da Polícia puseram-se a revistar os bens dos estudantes ali acomodados. Quando chegaram ao quarto de um dos estudantes de nome Abdul Ali, para além de revistarem os seus bens, levaram consigo o telemóvel do estudante entre livros, roupa, cadernos, documentos e convidaram o jovem a segui-los, na condição de levar pasta dentífrica "porque isso poderia lhe ajudar".
"Quando estavam a sair do recinto do centro, porque o guarda tinha trancado o portão de acesso e saído do local, os cinco elementos preferiram saltar o muro com os bens levados", disseram as nossas fontes, acrescentando que "o estudante duvidoso da acção dos supostos agentes policiais fugiu e esses puseram-se a disparar".

A FIR também vandalizou a casa do tio do estudante

Consta que no dia seguinte, ou seja, na sexta-feira do dia 6 de Dezembro, com o mesmo pretexto de terem informações de o estudante ser colaborador dos sequestradores, os agentes foram à casa do jovem Abdul Ali, no bairro Patrice Lumumba, onde fizeram o mesmo do dia anterior, tendo vandalizado a casa e de seguida espancado o dono.
"Neste momento o jovem está em parte incerta com medo de ser torturado ou morto pela Polícia. Não há comunicação porque o telefone é este que ficou com os tais agentes", concluiu o professor do centro onde o jovem tem vindo a estagiar em economia.
Na verdade, não se sabe se foi ou não uma tentativa de rapto, dado a acção ter sido na calada da noite, para além do comportamento de terem ameaçado o guarda para abrir o portão.

Estudante conta a sua versão

A Reportagem do Canalmoz foi contactada pelo jovem Abdul Ali que, segundo ele, ainda continua escondido por ter medo da FIR.
Ele contou pessoalmente o que aconteceu naquela noite. Disse que foi às 2 horas da madrugada da quinta-feira do dia 6 de Dezembro, que seis indivíduos, três dos quais uniformizados à FIR e três à civil entraram no Centro Internato onde vivem alguns estudantes do Instituto Industrial e Comercial da Matola e puseram-se a vasculhar os quartos dos estudantes, incluindo o quarto onde ele encontrava-se a dormir e pediram que lhes entregasse o telefone.
"Mas eu com medo, pensando que eram bandidos, escondi o telefone na almofada", disse o estudante, afirmando que revistaram o quarto e vasculharam nas malas e depois foram a outros quartos.
"Momentos depois voltaram para o meu quarto e disseram que eu não podia brincar com eles, tinha que lhes entregar o telefone que eu tinha, porque mantenho contacto com raptores", disse Abdul Ali.
O jovem afirmou que como tinha medo, acabou por entregar o telefone, e os agentes obrigaram-no a segui-los, levando roupa, pasta dentífrica, livros e outros bens "porque isso vai ajudar".
De acordo com a fonte, ao saírem do recinto, os agentes saltaram o muro porque o guarda tinha fechado o portão.
"Foi nesta altura que consegui fugir, e fui à casa do director a fim de pedir socorro, mas o director não abriu as portas nem me atendeu. Resolvi entrar no mato até amanhecer", contou Abdul Ali.
A fonte explicou que quando amanheceu, procurou uma casa vizinha para descansar porque “esteve cansado".
"No sábado voltei ao centro e os meus colegas disseram que o director estava ali. O director disse aos meus colegas que eu era procurado pela FIR e se me encontrassem matar-me-iam", disse, acrescentando que "perante esta ameaça, resolvi ficar fora do centro até segunda-feira".
A fonte disse, por outro lado, que na segunda-feira foi ao encontro do director do Instituto Industrial e Comercial da Matola, e ficou a saber daquele que é procurado pela FIR e se o encontrasse ir-lhe-iam fazer mal e na sequência a direcção daquela escola não se responsabilizaria pelo que viesse a acontecer.
"Agora não sei o que fazer porque continuo com medo e estou ainda escondido", referiu a fonte. Na verdade, nesta segunda-feira, dia 16 de Dezembro, começaram os exames naquela escola, devendo terminar na próxima sexta-feira.

Direcção do instituto remete a responsabilidade à Polícia

Neste domingo, a Reportagem do Canalmoz contactou telefonicamente o director do Instituto Industrial e Comercial da Matola, Abel Mahomed Cassamo do Rosário, e este declinou-se a comentar do incidente alegando tratar-se de matéria da Polícia.
Contudo referiu que o processo está em andamento e a sua entidade aguarda pelas conclusões da Polícia no assunto.
Abel Mahomed Cassamo do Rosário não disse se a sua escola tinha metido ou não uma queixa pelo facto da instituição ter sido invadida pelos agentes da FIR na calada da noite em flagrante violação da legislação em vigor sobre a matéria de buscas ao domicílio.
"Como disse, este assunto é de Polícia. O processo está em andamento e nós aguardamos pelo desfecho", disse o director.
Questionado se o estudante podia ou não retornar ao centro e participar nos exames tendo em conta que os seus documentos estão com os supostos agentes da FIR, o director do Instituto Industrial e Comercial da Matola contornou a questão, respondendo que "não sei, isso depende do estudante".
Perante a insistência de querermos saber se a escola iria proteger o estudante, a fonte disse que "não sei, depende da decisão do colectivo de direcção da escola, mas insisto que este é um caso da Polícia".
Concluiu afirmando que não pode falar mais ao telefone, e se o jornal o precisasse para mais detalhes poderia lhe procurar pessoalmente.

PRM diz que desconhece o caso

Em contacto com o Canalmoz, o porta-voz do Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique em Maputo, Emídio Mabunda, disse que a corporação não tem conhecimento da ocorrência.
A fonte afirmou que suspeita que os indivíduos não sejam agentes da Polícia, devido à forma como actuaram fora da hora e no fim-de-semana.
Emídio Mabunda argumentou que a lei não permite que a Polícia faça buscas durante à noite ou nos fins-de-semana, nas casas ou instituições mesmo com mandados judiciais, salvo em flagrante delito.
Pediu a colaboração dos familiares e da Direcção do Instituto Industrial e Comercial da Matola, no sentido de notificarem o caso às autoridades para estas darem o devido seguimento.
"Não temos registo dessa ocorrência e o facto dessas pessoas terem vestido uniforme da Polícia não significa que sejam agentes da PRM", disse o porta-voz, concluindo que "a serem polícias precisamos de saber em que unidade estão afectos". (Bernardo Álvaro)..."
 

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