sábado, 29 de novembro de 2014

Em memória dos mortos e dos estropiados

André Matola e Belmiro Adamgy
Temos consciência de que as imagens que ilustram esta Foto-Reportagem chocam. São violentas. O nosso propósito é mesmo esse. Abalroar. Chocar com o propósito de que quando cada automobilista estiver na estrada (adolescente, jovem, adulto, idoso), de ambos os sexos, se recorde destas tristes imagens que podiam, e muito bem, não terem acontecido.
Muito já se falou sobre as prováveis causas desta desgraça. Apontam-se o álcool em excesso, o cansaço, o abuso, o desrespeito pelas mais elementares regras de trânsito, a irresponsabilidade e outros. Raramente, ou quase nunca, se fala das condições das próprias vias que também contribuem para as estatísticas de feridos, mutilados e mortos.
Mas mais do que a estrada, é o factor humano que concorre para os números que assustam mais do que dissuadem: só nas últimas duas semanas morreram mais de 50 pessoas em acidentes de viação! É medonho. Nem o pior serial- killer da história seria capaz de tamanha precisão…
Agora, há uma verdade crua e nua que deve ser dita. A juventude está a beber. A beber a grande. Começam na quinta-feira, prosseguem na sexta-feira, e atingem o clímax no sábado.
É vê-los abastecerem os Vitzs,Hondas,  Fit, Alteza, BMWs, VWs, de hunters gold, Lite, 2M, Spin, Windhoek. Rapazes e raparigas. Parece competição de txiling. Competição de quem bebe mais para protagonizar o mais espectacular acidente de viação. Bebem por tudo e por nada.
Domingo é mais bebedeira, ainda que ligeira, para tirar a ressaca, depois de uma peladinha de futebol, no caso dos homens, onde, regra-geral, não falta um mutxutxu.
Se calhar já é tempo de tratarmos a questão como ela merece; podemos estar já com um problema de saúde pública. Alcoolismo na adolescência. Alcoólatras antes dos 20 anos são candidatos a serem “peso morto” para a sociedade. É vê-los a emborcarem “toneladas” de álcool e depois protagonizarem cenas dignas de filmes da série B. Os whatsapp e facebook estão cheios de imagens “autorizadas” pelo álcool e fumo…
O denominador comum é que já ébrios ou grossos que nem cachos pegam no volante e matam-se uns quilómetros mais adiantes. Alguns sem terem sequer reembolsado o dinheiro que foram pedir nos bancos comerciais para comprarem os bólides. Pior é que não morrem sozinhos. Vitimam e estropiam pessoas que nada têm a ver com a boémia deles.
Alguns carros rebentam com as paredes das casas onde no silêncio da madrugada marido e esposa dormem sossegadamente, tal é avelocidade com que vai o automobilista alcoolizado. Assistimos isso no sábado passado na avenida Sebastião Marcos Mabote, próximo da paragem do mercado do bairro CMC (Magoanine).
Pior se se recordarem de pegar o carro quando começam sentir os primeiros indícios de sono. È mistura explosiva. Dinamite autêntica. Verdadeiro cocktail molotov: álcool, cansaço, sono, fuminho, etc. etc.
Se até há bem pouco tempo os condutores de chapa-100 eram os reis dos acidentes, agora esse título está a ser reclamado pelos jovens, muitos deles recém-formados pelas universidades do país e que em principio seriam motivo para muitos anos de conversa e convívio familiar com os progenitores que só eles sabem o quanto tiveram de se sacrificar para que eles tivessem formação superior.
Sabemos que muitos jovens estão totalmente marimbandos para a leitura de jornais, livros. Só o álcool é que conta. E quanto mais, melhor… ou pior. Fala-se de concursos de consumo de cerveja ou vinho. O jovem deita-se e alguém entorna o conteúdo da garrafa goela abaixo… o resultado só pode ser um: morte precoce.
Mas como “água mole em pedra dura tanto bate até que fura” acreditamos que conseguiremos resgatar uns tantos quantos para a condução defensiva, aliás o outro propósito.
Mas não são somente os jovens recém-encartados que voam literalmente na estrada. Há mais. Todos os dias há quem vire com camiões cavalos (plataformas), camionetas, camiões, machibombos por causa do excesso de velocidade.
Porque é Dezembro, vamos recuperar a expressão tolerância zero… infelizmente, com uma notinha de 50 ou 100 paus passa-se imediatamente para a tolerância total!

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