sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Otimismo e firmeza: peritos europeus analisam entrevista coletiva de Putin

Hoje, 21:41

Rússia, Vladimir Putin, entrevista, política

O presidente Vladimir Putin realizou na quinta-feira sua tradicional grande entrevista coletiva para a mídia russa e estrangeira, na qual encorajou a população russa, apoiou o governo, o Banco Central, a taxa de câmbio do rublo e simultaneamente o seu próprio rumo de política interna e externa.

Milhões de cidadãos russos receberam boas notícias: o presidente assegurou que a economia do país irá ultrapassar a crise no máximo dentro de dois anos, enquanto as taxas de juro irão baixar.
Como foi avaliada pelos cientistas políticos e analistas europeus essa intervenção de Putin perante os jornalistas?
Alemanha. Peter Schulze, professor de ciência política da Universidade de Gotinga (Georg-August University):
“O presidente russo tem toda a razão e temos de concordar que, sem diálogo e sem uma aproximação recíproca, não é possível resolver o conflito na Ucrânia. Sabemos isso a partir da história, foi assim que se encontraram soluções para as guerras do Vietnã e da Argélia. Foi assim que se encontraram soluções para os conflitos da Guerra Fria nos anos 50, 60 e 70.
“A questão está em como reunir esses adversários regionais à volta da mesma mesa de negociações. Isso só será possível através de pressões externas. A Rússia deve cancelar seus assuntos com os separatistas do Sudeste e o Ocidente deve fazer o mesmo relativamente a Kiev. Neste momento eu não vejo do lado do Ocidente uma insistência acrescida para que Kiev se sente à mesa das negociações com os separatistas das regiões do sudeste da Ucrânia.”
Itália. Graziani Tiberio, presidente do Instituto de altos Estudos em Geopolítica e Ciências Auxiliares e diretor da revista italiana “Geopolitica”:
“Eu considero pessoalmente que hoje o Ocidente sob a égide dos EUA tenta criar novas fronteiras. No caso de se formarem novas fronteiras, o diálogo entre a Rússia e o Ocidente será dificultado. A posição expressa por Putin, quando ele falava do “espaço comum de segurança”, parece-me sensata.
“Eu até continuaria essa ideia: para se obter uma geopolítica pacífica é necessária uma espécie de ponte entre a Europa e a Rússia, um espaço que possa manter sua própria soberania e cooperar respeitando tanto os interesses dos países europeus, como os da Rússia.
“Em caso de aparecimento de uma verdadeira ruptura entre a Rússia e a Europa, nós iremos obter uma fronteira de caráter geopolítico na qual ficarão provavelmente estacionadas forças militares do jogador que hoje é dominante, ou seja, dos EUA.”
Sérvia. Dragana Trifkovic, diretora do Centro de Estudos Geoestratégicos de Belgrado:
“A Rússia tem de procurar caminhos para o seu desenvolvimento econômico. Putin fez muitas coisas nesse sentido nos últimos 14 anos, mas é difícil desenvolver um país sob sanções e quando se tem um “ponto quente” junto à fronteira. Nós sabemos da história que cada vez que a economia da Rússia progredia, começavam as guerras, porque o Ocidente não está interessado numa Rússia forte e desenvolvida. Neste momento muitas coisas dependem do que o Ocidente vai fazer em seguida.
“De qualquer forma, nós na Sérvia esperamos que a Rússia conseguirá, em conjunto com os parceiros dos BRICS, criar um sistema econômico saudável que seja uma alternativa ao ocidental, o qual é usado com frequência para fins de agressão contra os países incômodos. Temos de perceber que o Ocidente usa constantemente duplos critérios. Se alguém nos ataca é natural que nos defendamos. Mas isso só é natural para o Ocidente, quando é o outro que o faz – imediatamente começa uma avalanche de críticas.”
Bulgária. Lyubomir Kolarov, ex-ministro da Informação da Bulgária:
“A Ucrânia viveu durante muito tempo debaixo da asa de Moscou, mas agora que teve de viver de forma independente subitamente se desmembra. Desde o início dos acontecimentos que a Rússia apenas observava o que lá se passava, como se acreditasse que os laços eternos de amizade fraterna não permitiriam que a Ucrânia olhasse para o outro lado. Mas afinal o dinheiro do Ocidente e dos EUA foi mais forte que a amizade.
“Eu estou completamente de acordo com Putin e com sua posição em relação à Ucrânia. Não há dúvidas que os EUA e a Europa estão transformando a Ucrânia em uma trincheira e a partir dessa posição de proximidade provocam a Rússia, tentando humilhá-la.
“Os membros da OTAN, incluindo a Bulgária, não podem deixar de cumprir as ordens da Aliança. Putin tem razão, a escolha é deles, mas a cabeça serve para pensar quando se tomam decisões sobre a instalação de bases militares da OTAN no próprio país. Ao apontar os mísseis contra a Rússia podemos amanhã nos transformar em alvo direto. Mas a Rússia pratica uma política extremamente pacífica e por isso ainda nada disso está acontecendo.
“Eu gosto da sinceridade de Putin, seu sentido de humor e firmeza, quando ela é necessária. A força de Putin está na sua abertura e transparência.”
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