segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O único lado do problema

As promessas de não retorno à guerra valem como promessas. São promessas que, provavelmente, mais se orientam no sentido de apaziguar ou refrear os ânimos dos cidadãos do que propriamente em garantir o seu cumprimento. Cada uma das partes parece fazer dois discursos: um de apropriação do protagonismo político, fazendo passar a ideia de que está em posição de força, e, outro, de apelo ao cidadão no sentido de perceber que o maior, aliás, o único culpado é o seu adversário político. Para o primeiro tipo de discurso cada uma das partes assume uma determinada dignidade que a caracteriza. Ou seja, quem está no poder defende a sua dignidade usando, entre outros, com maior peso, o poder da imprensa pública (entenda-se “pro-governamental”) sob seu domínio. As reclamações, exigindo um mínimo de profissionalismo, imparcialidade e isenção, ainda que tenham a sua dose de provimento, são relegadas para uma gaveta fictícia timbrada ou rotulada de “oposição”. Na hora do aperto é fácil esquecer que a imprensa pública, assim entendida, não deve e nem pode ser partidarizada e que, por isso, o público merece respeito em termos de cruzamento de fontes. É suspeito e cansativo quando apenas nos é dado a consumir o conteúdo do lado que acusa e diaboliza o outro. Tão pesado e desestruturante se torna quando isso só confirma a regra. Olhando para o “outro lado”, designadamente a oposição, a defesa da dignidade é feita basicamente pela imprensa privada (entenda-se “livre”, no sentido de censura e independência editorial), fora do seu domínio directo. Há um “domínio indirecto” da oposição sobre a imprensa, no geral, através do seu comportamento político, independentemente do agrado dessa mesma imprensa. Por exemplo, os títulos dos semanários da praça são um chamariz importante para percebermos algo sobre o signi- ficado de liberdade de expressão e exercício de democracia. Essa liberdade consegue vender as ideias da oposição, pressionada pelo momento e pelo sentido de oportunidade, aliás, pelo necessário faro que este tipo de negócio exige. Quando esse exercício incomoda atrai rótulos como libertinagem, imprensa não sé- ria, pasquins, etc. O acto de denegrir a luta contra desinformação assume-se assim como produto de intolerância ou de quem procura ganhar a sua razão gritando mais alto que a própria razão. Tanto o primeiro tipo de imprensa como o segundo mostram-nos uma espécie de empate relativamente à apropriação do protagonismo político; os dois localizam-se no ministério da verdade, mas cada um no seu respectivo andar. Por vezes, as tendências cruzam-se nos corredores desse mesmo ministério onde confirmam percepções antigas, percepções ligadas ao “fantasma do profissionalismo”. Percebem, por isso, que que é preciso desconstruir os medos e no seu lugar reconstruir e fortalecer o profissionalismo para tornar mais visível e credível o seu ministério. Quanto ao segundo discurso feito pelas partes, o de que o culpado é o adversário político, a resposta está na exigência de paz. O cidadão percebe, ou já percebeu, que o sacrifício em eleger o culpado nunca foi a solução do problema. Aos culpados custa exigir que se comportem como tal quando se sabe que só os mesmos estão em posição primeira de solucionar o problema. Quando as partes decidirem “baixar a guarda” teremos pernas para resolver o problema que nos aflige. Isso é para breve.

Num livro de 252 páginas intitulado “Moçambique: 40 anos de Independência e Soberania. Lições, Desafios e Oportunidades” Raimundo Pachinuapa escreveu suas memorias sobre a luta de liberta- ção de Moçambique, e lançou na segunda-feira última, numa altura em que se celebra 40 anos de independência. O seu autor, Raimundo Pachinuapa, disse tratar-se de um convite para a celebração, em conjunto, dos 40 anos da independência nacional. A obra tem para si um enquadramento político-histórico no concernente às várias etapas da consPachinuapa escreve memórias trução do Estado moçambicano e retrata as memórias dos combatentes, exaltando a bravura e a coragem dos jovens de 25 de Setembro. “Esta é a forma clássica de seguir os ideais dos jovens de 25 de Setembro, de descarregar o fardo que o povo moçambicano carregava durante os 500 anos da coloniza- ção [portuguesa]. Neste livro, encontra-se o testemunho da dureza do passado colonial, a imagem da mudança para melhorar a vida do nosso povo, durante os 40 anos da independência nacional”, explicou. O autor pretende com a obra contribuir para a reflexão conjunta sobre o estado actual do país e a contribuição de cada moçambicano para a construção de um país soberano e próspero. Por essa razão, o Tenente-general defendeu que a recolha e publica- ção das memórias dos combatentes é um contributo para o enriquecimento do ensino histórico de Moçambique, pois um povo deve valorizar a sua história e identidade, pelo que disse tratar-se de uma obrigação e responsabilidade de todos. De referir que esta é a terceira obra sobre memórias dos libertadores pois a primeira foi publicada com o título “Memórias da Revolução 1962/1974” a quatro anos na capital do país. (Rafael Ricardo)

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