segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Nyusi lança farpas

Mais ousado que nunca, o presidente renova a intenção de o seu governo “fazer de tudo para que o país alcance” a paz efectiva.
E lança a farpa com o destino bem identificado, mas sem que, mais uma vez, o presidente decida ‘abrir o jogo’: “mesmo que apareçam pessoas que tentem bloquear o processo de diálogo em curso”.
Há dias, Raúl Domingos, antigo quadro sénior da Renamo e ex-negociador chefe de Dhlakama, denunciou a existência de indivíduos ligados às partes que preferem a guerra civil em vez da paz, quanto mais efectiva e duradoura.
Hoje o presidente da República corrobora Domingos, mas prometendo resisitir para que o objectivo maioritário seja alcançado.
Se calhar arrependido do que acabara de dizer, Filipe Nyusi refugia-se à estratégia generalista, anotando que normalmente, nos dossiers da paz, sempre aparece quem quer compreender a mais ou quem quer compreender a menos.
“É normal que as pessoas tenham a curiosidade de saber, mas penso que o povo quer a paz, o povo não quer mais país dividido; o povo quer o processo de reconciliação”, Nyusi, sábado em Búzi, província de Sofala.
Citado pela RM, Nyusi faz o aviso: “se amanhã aparecer-vos alguém a dizer que queremos isso, aquilo, que não faz parte desse grupo, naturalmente que só tem uma vontade de bloquear o processo, porque os grupos são muito especializados.
Estão a trabalhar da forma estruturada e prestam contas as pessoas que eles próprios disseram, mas quando aparecerem sub-grupos de voluntários para comentar alguns aspectos, naturalmente que é, mais uma vez, a tentativa de querer bloquear o processo, mas estamos a fazer tudo por tudo para que esse processo não possa encalhar”, presidente Filipe Nyusi.
No balanço de visita à província de Sofala Nyusi assinala o bom desempenho do governo-Taipo.
Mas também o facto de o presidente ter estado sucessivamente com Afonso Dhlakama e com o pai deste, coisa rara, dá em sucesso absoluto nos esforços visando a paz efectiva.
Em muitos corredores, é sabido que o pai de Afonso Dhlakama assume importância invulgar no modo de estar e de ser do líder, nomeadamente desde os tempos da guerra civil, isto para além do estatuto de régulo.
São incontáveis as ocasiões em que o pai de Afonso foi acusado e perseguido pelas Forças de Defesa e Segurança, por alegadas facilidades ou participação sua em acções ligadas ao filho.
O que Samora Machel, Joaquim Chissano e Armando Guebuza conseguiram fazer, fâ-lo, agora, Filipe Nyusi, que ainda elegeu Sofala para “libertar” a pomba branca, que muitas vezes se confunde com a paz.
Boom de Sofala
O presidente atribui nota positiva à província de Sofala ao afirmar que está a trabalhar no sentido de consumar e superar as metas traçadas no Programa Quinquenal do Governo 2015/19.
Avaliou positivamente a província, no termo da visita de trabalho, na vila de Búzi, sua última escala do périplo de três dias que o levou aos distritos de Gorongosa, Muanza e Chibabava, onde orientou comícios, sessões do governo provincial alargadas a outros quadros bem como uma ‘vista de olhos’ aos empreendimentos de elevado valor socio-económico.
“A província de Sofala está a trabalhar”, sublinha o presidente, apontando diversos cenários que, na sua óptica, espelham o engajamento na agenda de desenvolvimento que o país decidiu abraçar.
O estadista aponta, a título de exemplo, a recente instalação de duas repetidoras (antenas) da emissora pública, que alargam o raio de cobertura do sinal radiofónico para cerca de 90 por cento como um autêntico ganho à província que deixa a população informada.
No capítulo da agricultura, o presidente disse estar maravilhado com o salto quantitativo que a província deu, de uma produção de 380 mil na penúltima época agrícola para 730 mil toneladas em diversas culturas desde os cereais, leguminosas e hortícolas que melhoraram a segurança alimentar das famílias.
Essa é uma subida que só se podia fazer de forma imaginária ou simulação em um gráfico, mas já não se trata de uma simulação, “mas sim uma realidade que essa província viveu” anota Nyusi, que saúda também o crescimento na esfera da pecuária, de 82 mil para 86 mil cabeças de bovinos.
O aumento da população de bovinos podia ser melhor, mas está, segundo o presidente, refém da adopção e introdução de novas técnicas capazes de tornar maior a sua multiplicação.
Sofala dedica-se, por outro lado, a promoção e expansão do caju, e conseguiu subir de cinco para nove mil o seu volume de rendimento, salto que constitui quase o dobro.
O quadro sanitário da província também mereceu apreciação do Chefe de Estado que apontou o facto de, nos últimos dois anos, para além de reduzir o rácio médico-paciente que saiu de 25 mil para 19 mil, feito que constitui um bom sinal.
“É verdade que o problema não é apenas o médico mas a assistência prestada ao doente, entre outras exigências, mas esse é um indicador de trabalho que permite investir mais nessa área de formação”, sublinhando o facto de a província não ter registado, em igual período, nenhuma eclosão de cólera.
A contenção da cólera, doença das “mãos sujas”, durante o período em análise, mostra, na óptica do presidente, que as coisas estão bem, porque caso contrário o sentimento seria bem diferente, porém o feito constitui um indicador de qualidade de vida da população.
Afirma igualmente estar satisfeito com o desempenho da província, as pontes estão em obras, a produção agrícola em ascensão, a população pede acesso a mais água e energia, telefone e é isso que o executivo pretendia ouvir.
“A população tem capacidade de priorização extremamente importante”, frisa, daí que o balanço da visita a província é positivo, pois apesar de tantas dificuldades não aquelas provocadas pela seca, mas porque Sofala foi o epicentro das hostilidades militares político-militares conseguiu óptimos indicadores de produção, um grande motivo e orgulho.
redacção/aim
EXPRESSO – 14.08.2017
NOTA: Parece pois, pelas conclusões do PR, que a “guerra” não afectou a população e a produção. Mas há uma novidade: ao contrário de afirmar o seu empenhamento na PAZ, afirmou, pela primeira vez, o empenho de o seu governo “fazer de tudo para que o país alcance” a paz efectiva.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE

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